A Multiplicidade na unidade em Pessoa

Pessoa, a princípio, assume um nome – Fernando António Nogueira Pessoa mas, a forma que melhor o explica em sua genialidade, é a personagem, que é ele mesmo e que escreveu Mensagem, em 1934, um ano antes de sua morte. Porém, a personagem vai mudando, ao longo de suas relações e “Pessoa – poeta” vai se transformando em muitos outros – Alberto Caieiro; Álvaro de Campos; Ricardo Reis e Bernardo Soares.

São fatias de um mesmo poeta, com vidas próprias, endereços, profissões, com datas de nascimento e de morte.

Fico pensando que Pessoa se constituiu poeta como uma totalidade contraditória, “uma unidade de contrários”                                                                   

Por que tantas façanhas do autor de Mar Português (com versos tão lindos e conhecidos do público – tudo vale a pena, se a alma não é pequena- que nasceu, viveu e morreu na sua Lisboa?  Quando lhe convidavam para sair dali, dizia: “Estou fincado em Lisboa, se não como uma raiz, pelo menos como um poste”

O amor de Pessoa por sua cidade era recíproco. Lisboa dedica-lhe um carinho incondicional. Pessoa é “o seu Poeta”

Em 8 de março de1914, nascem os heterônimos — Alberto Caieiro- que ele logo toma por seu mestre – Álvaro de Campos e Ricardo Reis, nascem de Pessoa- um só poeta com muitos desdobramentos, nascem dele com suas respectivas obras “acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever de pé, como escrevo sempre que posso e escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase, cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida”. […] Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas”

                                                                            Fernando Pessoa

A intrigante história de Alberto Caieiro que só fez o curso primário mas, escreveu os lindos versos de “O Guardador de Rebanhos.”

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

                                                     Alberto Caieiro

Não sou nada

Nunca serei nada,

Não posso querer ser nada

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.     

Tabacaria-  Álvaro de Campos

Pessoa considerava Bernardo Soares um semiheterônomo, uma mutilação de si mesmo, mas ele escreveu a importante obra “Livro do Desassossego”

Pessoa, Fernando. Obra Poética IV. Poemas de Álvaro de Campos. Porto Alegre: L;PM; 2012

A sinceridade do fingimento do poeta expressa-se nos versos

Autopsicografia 

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração


Pessoa, Fernando. Lírica e dramática, In: Obras de Fernando Pessoa 

                                    Festival de Absurdices

Vossa Excelência é um imbecil !

O cinismo de V Excelência é estarrecedor!

Meu filho não é ladrão, ele é doente…(sobre Geddel Vieira)

Não vamos ser presos….não vamos ser presos…(“mantra” segundo Joesley Batista)

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