Quem for a Portugal, não pode deixar de visitar Coimbra, uma cidade velha, mas cheia de encantos. Seus recantos com flores, jardins, pedras, tudo em Coimbra é maravilhosamente antigo e original.
Ali, a Universidade de Coimbra desponta majestosa, fincada em seus alicerces, guardiã dos saberes há séculos, numa área grandiosa, mirando o Mondego com uma expressão de respeito e reflexão.
A Quinta de Inez de Castro é o refúgio de Inez, onde ela passou os seus dias felizes e infelizes, viveu e morreu. Ali aconteceu um lindo caso de amor que todos em Portugal relembram, pela tristeza que envolveu os dois amantes. D. Pedro I apaixonou-se loucamente por Inez, nobre dama da região de Castela, na Espanha, desde o dia que ela chegou na comitiva de D.Constança , em Portugal, que era a prometida para casar-se com D.Pedro, e esse amor sobreviveu até a morte de Inez, decretada por vontade do pai de D. Pedro I , D.Afonso IV.
A chamada, Quinta das Lágrimas , dentro da quinta de Inez tem um riacho, por onde a tradição conta que Inez recebia as cartas que D.Pedro colocava para ela no rio Mondego e a correnteza ia levando até ela; uma fonte muito linda onde eles se encontravam- nA Fonte dos Amores; e a Fonte das Lágrimas de onde Inez foi resgatada para morrer. A árvore, em baixo da qual, Inez foi decapitada por ordem de D. Afonso IV, existe ali na Quinta das Lágrimas, bem cuidada e com dizeres explicativos. Quando D. Pedro I subiu ao trono, após a morte de D.Afonso IV seu pai, mandou coroar Inez depois de morta, rainha de Portugal.
Camões conta no seu grande poema “Os Lusíadas” toda a história de Inez de Castro e seu infeliz amor com D.Pedro I, e como ela chegou a ser rainha de Portugal, depois de morta. (Episódio de Inez de Castro-Canto-III-trechos)
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos miinimos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:
(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
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Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece.
(Camões)