Pensando na estatística dos nossos alunos do Ensino Médio sobre leitura e entendimento de textos, (apenas 6% o fazem bem), lembrei-me de um adolescente com quem trabalhei há um certo tempo. Sinto-me à vontade para contar esta história porque não há o menor perigo de parecer antiética. Para iniciar o trabalho, escolhi um texto sobre Lampião e seus cabras pois entendi que iria interessá–lo. Falava do Cangaceiro que, chegando a uma fazenda, exigiu almoço do fazendeiro, como sempre fazia. Lampião sentou-se à cabeceira da mesa e distribuiu seus cabras como chamava os companheiros, em vollta da mesa. Depois de duas leituras, o adolescente me disse que gostou muito do texto e que eu poderia fazer perguntas como seus professores faziam. Comecei a conversar com ele sobre o texto e me disse que Lampião era um homem bom, pois sentou-se à cabeceira da mesa, mas enfileirou as cabras em volta da mesa com ele. Levei um susto e sem querer perguntei: Como? e ele respondeu: sim, as cabras que ele levou ficaram juntinho com ele.
Fechei os olhos para poder digerir, mas antes imaginei a cena: Lampião na cabeceira da mesa e as cabras enfileiradas em volta.