Os segredos de um rio…

Li emocionada o texto do Abílio de Barros sobre o rio Paraguai. Companheiro da minha infância esse rio é nosso Abílio, e só posso dividi-lo com você, porque ele é também muito meu. Fiquei assustada, uma vez, quando percebi que podia vê-lo de uma janela, correndo manso e tranquilo para os “pantanais da minha verde terra”. Fizeram uma imprudência comigo: me tiraram do meu pantanal, onde eu vivia tão feliz e me botaram na casa de umas tias velhas porque eu precisava de estudar. E foi assim que o meu rio largo e manso se transformou numa vista da janela. Mas, para fazer as pazes com o meu companheiro de reflexões infantis imaginei uma estratégia – como a minha cama ficava bem embaixo da janela, aprendi a dormir todas as noites virada para o lado do rio, o que na minha ignorância infantil sobre latitudes, longitudes e meridianos, me permitiria navegar com ele e chegar até a minha casa. Nunca esqueci essa estratégia que inventei para me sentir mais próxima das coisas que tinha deixado. Na minha infantilidade, era só virar para o lado, ali o encontraria, correndo manso, levando consigo as minhas saudades e a enorme vontade de navegar com ele. Com isso aprendi a questionar duas coisas: se era preciso ir à escola para estudar, quando eu tinha o mundo para isso; se era preciso ir à igreja para me confessar, se eu tinha o meu rio para trocar idéias.

Perdoem-me os estudiosos da Geografia, era apenas uma criança correndo atrás dos seus próprios referenciais.  Mais de meio século se passou Abílio, e eis-me aqui, emocionada com o seu artigo…

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