Observando as minhas netas e amigos em volta, percebi que, por causa do ENEM e do vestibular, Machado de Assis continua tão divulgado como antigamente e o mais discutido dos seus romances, continua sendo Dom Casmurro. No entanto, o mais bem construído dos romances de Machado, foi lido por pouquíssimos alunos e por pouquíssimas pessoas, em profundidade. Para esses leitores os conhecimentos não vão além da superfície.
Lembro-me da primeira vez que li o Dom Casmurro, no 1º ano do ensino médio com a minha queridíssima e saudosa professora* de Literatura Brasileira. Passei pela história de Bentinho, desde a viagem de trem, quando um poeta de maus versos o apelidou de Dom Casmurro. Vivi encantada cada momento do intenso namoro de Capitu e Bentinho, a enigmática Capitu que viria a ser sua mulher e que o traiu com Escobar, seu primeiro e melhor amigo.
Sempre pensando em sua vida passada, Bentinho mandou reconstruir sua velha casa de Matacavalos, onde foi muito feliz, querendo atar as duas pontas da vida: adolescência e velhice.
Nas outras leituras de Dom Casmurro que se seguiram e foram tantas, aprendi a flutuar num mundo de emoções, de indagações para entender que Machado pretendia sim, descobrir as razões da existência.
Na falta de uma compreensão maior da obra, com elementos escassos e supérfluos, os leitores cujo conhecimento não vai além da superfície, distraem-se em se apoderar da polêmica da traição de Capitu – Capitu traiu ou não traiu Bentinho????? – como se isso fosse a essência de uma obra como Dom Casmurro.
Machado eternizou Capitu e Bentinho.
*Profª Maria da Glória Sá Rosa