Existiu em Corumbá, há muitos anos atrás, uma andarilha chamada Chiquinha, Chiquinha do Portão. Do portão, porque, ela chagava às casas e ficava quieta, apenas segurando no portão. Não batia e nem chamava ninguém, ali ficava até que aparecesse alguém e desse conta dela. Era um tipo diferente – baixinha, sempre limpinha, usava uma saia de chita floreada, na cabeça, uma guirlanda de flores, e nas faces, dos dois lados uma rodela de rouge saliente que aparecia muito e a caracterizava. Rouge (para quem não sabe, é um pozinho vermelho, vermelho em francês).
Aquela andarilha era humilde e representava a vaidade da mulher, uma vaidade que devia ter existido algum tempo e, por algum motivo triste, se perdera na passagem do tempo. A criançada, quando a via, ia atrás gritando: Chiquinha, Chiquinha do Portão, quer comida hoje? ou quer flores? Chiquinha não respondia, continuava serena a sua caminhada, com seu rosto pintado, como se procurasse alguém desaparecido nas dobras da rua.
Dizem que, em sua juventude, teve uma paixão… Por onde andaria a paixão de Chiquinha? Dizem que eles namoravam no portão… Será mesmo? O que essa paixão conseguiu fazer com Chiquinha, a ponto d’ela ensandecer?