“Na primeira vez que enganam você, a culpa não é sua, na segunda vez , é “
Carlito Maia – publicitário
Existe outra área em que a verdade e a mentira mais se confundem do que a política? Só mesmo a publicidade, garantem os analistas.
A Mentira e a Televisão
Uma velha máxima diz que, na publicidade não existe verdade: existe a imagem, a impressão da verdade, que pode muito bem ser uma mentira. Em outras palavras,”não é o que você diz: é o que o outro entende.” Não é à toa que a política, área em que a verdade nunca foi prioritária, casou tão bem com a publicidade. (…)
Políticos e publicitários, todos eles falam hoje a mesma língua. Uma língua que não é usada para esclarecer, mas para vender.(…)
Os candidatos hoje são produtos. Pense neles como em marcas de sabão em pó, traduza seus comerciais e o que aparece nos telejornais, porque também eles respondem às estratégias de imagens. Você estará próximo, afinal de alguma verdade: a sua.
Nelson de Sá
Jornalista e crítico de televisão da folha de São Paulo
A ARTE DE ENGANAR
Boris Casoy
O uso da emoção é um dos instrumentos mais comuns nas campanhas eleitorais. Quanto menos informada é a população de eleitores, mais a emoção é eficaz para conseguir votos. Embora isso seja pouco ou nada divulgado, no Brasil a tentativa de envolver as emoções no turbilhão eleitoral, é provavelmente, a ferramenta mais importante de uma campanha.
Cerca de 70% dos eleitores brasileiros não têm o primeiro grau completo. Na visão dos políticos, dos publicitários e especialistas que dirigem campanhas eleitorais, é bem mais prático influenciar essas pessoas usando sua emoção do que a razão. Mostrar as dificuldades reais do país através de estudos técnicos, apresentar gráficos, discutir opções teóricas de caminhos a serem seguidos e propor planos de governo reais, tudo isso é considerado totalmente sem efeito, inútil, por aqueles que dirigem campanhas eleitorais.
Mas, não é só a emoção. No Brasil, ela funciona junto com alguma coisa que pode parecer racional ao leitor. Na maioria das campanhas para presidente, governador e prefeito, são feitas pesquisas entre os eleitores, verificando quais são seus principais anseios e desejos. Por exemplo: um candidato a governador verifica que seus possíveis eleitores têm como prioridade a habitação. A partir dessa constatação toda a parte aparentemente racional da campanha será dirigida basicamente para esse tema. Se na pesquisa os eleitores demonstram que querem eleger um candidato que combata a corrupção, dá-lhe discurso contra a corrupção. A técnica é trabalhar com a emoção e com os anseios. A verdade pouco importa.
Como os orçamentos públicos são sempre menores do que o eleitor quer, os candidatos são aconselhados a prometer sem tocar na questão dos recursos. Não há pudor: se promete tudo. E num pacote de emoção e promessas, evidentemente acompanhadas de críticas à atual situação, se arrancam os votos. Com a certeza de que, depois, ninguém vai cobrar as promessas. Há até quem diga que promessa eleitoral não deve ser cobrada porque não é para valer.
É claro que nisso tudo há exceções. Mas são poucas.
Se todos nós votássemos com mais razão e menos emoção, procurando ver o que representam, quem são realmente os candidatos, o que eles fizeram e falaram no passado, certamente teríamos um Brasil melhor. Mas esta é uma história que fica para uma outra vez.
Apresentador e editor -chefe de tv