O trabalho docente em sua especificidade
Pedro pedreiro, penseiro
esperando o trem
Manhã, parece, carece
de esperar também
para o bem
de quem tem bem
de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
assim pensando, o tempo passa
e a gente vai ficando prá trás
esperando, esperando, esperando
esperando o sol
esperando o trem
esperando o aumento
desde o ano passado para o mês que vem.
(Chico Buarque MPB)
Para falar sobre o professor temos que considerá-lo dentro da atividade que exerce e na qual se constitui. Os professores pertencem a um grupo social; são pessoas reais e vivas que trabalham em instituições educacionais , com experiências que podem ser tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes, realizando um tipo de trabalho entendido como não – manual. Dessa forma, eles trazem consigo uma condição que é social e histórica e, há que se considerar essa condição ao tentar estudá-los.
A tentativa de refletir sobre o professor implica em rever o trabalho que ele executa, por se entender que, na atividade, ele passa por um longo processo de formação e desenvolvimento, através do qual vai construindo os aspectos que permitirão reconhecê-lo como “o professor”, na representação do seu papel. Diferentes autores analisam o trabalho docente sob diferentes abordagens, considerando uns a sua especificidade, e considerando outros as relações de natureza capitalista (apesar das diferenças) que se processam dentro da instituição. Mas, todos os trabalhos são unânimes em considerar a especificidade do trabalho docente e a caracterização do professor como funcionário.
A posição que os professores ocupam na sociedade é ambígua, na medida em que, devido às características de suas funções, situam-se ao lado dos médicos e advogados, e, no que se refere à sua renda, posicionam-se ao lado dos artesãos. Observamos que há tempos atrás, o professor era visto como um profissional autônomo, gozando de respeitabilidade, dono do saber, e recebendo um tipo de reconhecimento público que o distinguia dentro da comunidade. Hoje eles são percebidos como assalariados, mal qualificados e mal pagos. A industrialização e o processo de urbanização fizeram expandir o número de escolas e consequentemente de professores. Esse aumento substituiu o professor autônomo pelo assalariado.
As décadas de 30 e 40 do século XX representam o período em que os professores gozaram de maior prestígio profissional em toda a sua história, com amplo reconhecimento social de seu trabalho; e, chamar o professor de funcionário é uma afirmação que não é contestada por ninguém, mas que não é suficiente, se não se acrescentar que ele é um funcionário de um tipo particular porque a sua profissão é muito ligada às finalidades e objetivos. Os docentes são portadores de mensagens e se alinham em torno de ideais nacionais.
Muitos estudiosos questionam se o professor estaria perdendo o controle sobre o próprio trabalho, uma vez que o controle do ensino está se movendo tanto para dentro como para fora pois, o controle sobre o ensino e sobre o currículo está cada vez mais sendo retirado de dentro da sala de aula e atribuído a corpos legislativos e administrativos e os professores estão se transformando em executores isolados dos planos, procedimentos e avaliação de outros. É evidente que há uma perda de prestígio associada à alteração do papel tradicional dos professores.
É um funcionário que pertence às classes médias da população pela natureza do trabalho que realiza (não-manual).
Autores, ao recuperar a gênese da profissão de professor, observam que o trabalho docente nasceu da primeira divisão social do trabalho, que separou os trabalhadores entre manuais e intelectuais. Dessa maneira, salvos do trabalho “pesado” (pela produção de “excedentes”) alguns homens puderam dedicar-se a “pensar” já que contariam com o trabalho dos outros para sobreviver.
Nasceu daí, a primeira divisão da sociedade em classes; o preconceito contra o trabalho manual e uma certa auréola de nobreza ao trabalho intelectual; e o trabalho docente.
O professor então realiza um trabalho que é de natureza “não-manual”, fato que lhe atribui um certo “tom” de requinte e “ares” de dignidade, mas a remuneração recebida por ele é irrisória, não dá para cobrir as suas necessidades (é a idéia do “2º salário”; para as “mulheres” ou para os seus “alfinetes”- antes, agora – muitas mulheres sustentam a casa com ele, e para os homens não é chamativo).
Essa questão nasceu na Antiguidade e se desenvolveu no percurso da categoria. O professor não trabalha só por causa do salário que recebe mas também por ele; o professor trabalha para “o bem” (de quem tem bem e de quem não tem bem). Dessa forma, a respeitabilidade que envolve a profissão de professor deve-se ao aspecto não-manual de sua atividade, que vem desde a primeira divisão social do trabalho, quando a atividade intelectual se separou do trabalho pesado, tido como degradante e indigno.O professor aceita essa dignidade que envolve o seu trabalho, em troca de uma recompensa que não é material: o professor trabalha para “o bem”. Nesse sentido, reside também na finalidade da tarefa, a especificidade de seu trabalho.