Relendo as crônicas inteligentes e bem humoradas do poeta Drummond, como costumo fazer, encontro a palavra “olhador”, que sempre me chama a atenção pela dimensão do significado. Olhador, para o poeta, não é simplesmente aquele que olha, mas o que vê com os dois olhos… precisamos deles para navegar na maré do surrealismo que o mundo nos impõe. Meu neto ficou louco por um boneco que representava um super-herói. Depois de comprá-lo veio a frustração – o boneco não fazia nada do que dizia o anúncio. Passada a frustração, sentimos o mundo visto através da arte de vender. Precisamos de nossos dois olhos para vermos coisas assim :
“Pneus de ombros arredondados é mais pneu” ;”Tip-tip tem sabor do céu” ; “Seus pés estão chorando por falta das meias Rouxinol, que rouxinalizam o andar”; ” Neste relógio, você escolhe a hora”; “Ponha você neste perfume” ; “Toda a família cabe neste refrigerador e ainda sobra lugar para o peru de Natal”; “Sirva nossa lingerie como champanha, é mais leve e mais espumante”.
O olhador gosta de fazer associações poéticas. Certas propagandas têm bossa, isto é, têm algo mais, imaginação, outras não…
Foi o poeta mesmo que disse : também de pão abstrato se nutre o homem!
Você seria capaz de fazer propagandas, anúncios com bossa? Experimente! Mostre que você é um olhador.