As águas subiram… Entraram no rancho
A mulher se refugiava no jirau com os filhos, e lá ficava dois meses
até que as águas baixassem.
O homem chegava de canoa, dava notícias do gado e dormia.
Que solidão!
Jacarés passeavam dentro da casa, pelas peças vazias,
apanhando peixes nas gavetas das mesas.
A poesia despida de roupagem gramatical e lógica
Na poesia de Manoel de Barros, a estrutura sintática aparece como assessória, latente, a palavra perde as suas denotações de dicionário, deixa as aderências de um emprego convencional e sensato para assumir uma linguagem essencialmente conotativa.*
UM LUGAR ADÂMICO
No Pantanal não se pode passar régua
sobremuito quando chove
Régua é existidura de limites:
E o Pantanal não tem limites.
Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com água
Passarinhos pedras árvores já estão comprometidas com água.
nos brejos, de noite o silêncio fala:
Sapo nu tem voz de arauto
Conchas mandam recado
Camaleões conversam baixo
Lagartixas pastoreiam borboletas.
Aqui, bonito é desnecessário.
Beleza e glória das coisas o olho põe.
Aqui a elegância e o branco devem muito às garças.
M. B
V. A criação literária- M. Moisés