Dores e Amores

Lampião e Maria Bonita Silvino Jacques e Raída

Lampião foi um cangaceiro famoso por sua valentia e pelas lutas que travou com a polícia no sertão nordestino.
Maria Bonita era sua companheira. Morreram juntos numa emboscada, em 1918.
Embora os livros de História não mencionem, o cangaço não foi um fenômeno apenas do Nordeste.
Em Mato Grosso do Sul apareceu Silvino Jacques com sua Raída, figura lendária de cangaceiro.
Você já ouviu falar nele?

Pois vou contar um caso que aconteceu com o “nosso” cangaceiro Silvino, aqui perto, num lugarejo chamado MIrassol.

Mirassol teve também os seus dias de guerra.

 Aconteceu quando chegou ao lugarejo, um destacamento de fronteira comandado pelo Major Léo, não sei de quê. Seu objetivo era organizar uma captura ao nosso já conhecido bandoleiro Silvino Jacques, que tinha se transformado numa lenda viva: “Onde está Silvino?”.

O primeiro ato do comandante, em tempos de Ditadura, foi prender aleatoriamente, homens honrados e trabalhadores do lugar, que, de acordo com o seu entender, tinham algum tipo de vínculo com o famoso bandoleiro. Essas pessoas foram enviadas presas para o Município vizinho para serem julgadas e, se possível, fornecerem algum tipo de informação, que não tinham.

Foi desamor à primeira vista. Toda a população ficou odiando o Major (com patente mesmo) pelo seu autoritarismo e arrogância.

O Major iniciou, paralelamente, a construção de um campo de aviação que não tinha no lugarejo e deveria facilitar a comunicação de Mirassol com o Comando.

Para conseguir seu objetivo, exigiu auxílio da população aos seus comandados. Os que poderiam contribuir com dinheiro procederiam de um modo e os outros com o próprio trabalho. O italianinho do bolicho, por exemplo, foi obrigado a manter 10 (dez) empregados, pagando seu almoço e jantar. Muitos outros homens do lugarejo trabalharam no roçado do campo, capinando e fazendo outros serviços; as crianças matavam formiga com aquelas máquinas horrorosas próprias para isso, mexendo em veneno.

Os prisioneiros, depois de interrogados e ficando provado que nada havia que os incriminasse, voltaram a Mirassol, horrorizados com o que lhes tinha acontecido.

O Fanfa, muito enraivecido com aquela situação, começou a treinar no tronco de uma bananeira – montou em seu cavalo baio e com pose de cavaleiro andante –” é assim que eu quero matar o Major Léo”! E enfiava a faca muito afiada no tronco da bananeira! E afiava mais a faca e pulava “-” É assim que eu quero matar o Major! E agora é que você vai ver seu major filho da puta, a força de um gaúcho tri-macho”! E fez isso muitas vezes, cada vez com maior força e segurança, mas, o Major continuou vivo e cometendo arbitrariedades.

O Major Léo conseguiu terminar o campo de aviação e espalhar um clima de terror por um bom tempo na população de Mirassol, acostumada ao verde das matas e ao carinho das águas abundantes.

Mas, como toda repressão sempre tem um sistema contrário agindo paralelamente, e em surdina, os bailes do Gaudêncio continuavam a acontecer (escondidos do Major) na aldeia, para refrigério dos homens do lugar. O bom sanfoneiro e a extraordinariamente linda mulher do Gaudêncio faziam a alegria dos rapazes da cidade alta.

Gaudêncio sanfonava até o dia clarear. Para dançar com sua linda mulher cada homem deveria pagar 5 reais por música; se quisesse dançar mais apertadinho com ela deveria pagar 10 reais e para bis, 20 reais. A rapaziada formava uma fila muito grande, pois, quando um acabava de dançar, entrava no fim da fila novamente, para mais uma dança especial e a fila continuava…

Os bailes aconteciam duas vezes por semana.

Ficaram famosos os bailes do Gaudêncio e essa foi uma forma muito singular que o casal arrumou de sobreviver em tempos tão difíceis de ditadura.

Só não podia dançar “embucetiado” com sua mulher – usando as palavras do Gaudêncio – aí sim – não tinha dinheiro que pagasse.   Uma vez:

-‘ Pedro Raño, Pedro Raño, filho de una puta, yo yá te dise que no puede dançar embucetiado com mi mujer, em casa de família!  Va-se embora!”

Numa noite muito especial, um bandoleiro tido como mulherengo, atraído pela fama dos bailes, caiu nos braços da extraordinariamente linda Erondina, mulher do Gaudêncio.  Fechou a casa, pois, só ele queria dançar e dançou a noite inteira. Já era dia quando saiu com seu bando para o esconderijo que só eles sabiam.

Não vou dizer o nome do bandoleiro, pois seria muita ousadia com a autoridade constituída, um tal Major mesquinho e arrogante, que veio a Mirassol, cheio de pose, exclusivamente para capturá-lo. E o bandoleiro passou a perna no Major, que tinha fama de mau, pompa e um aparato sem igual em todo tempo e lugar.

E aí Major, procurando o que não guardou? ONDE ESTÀ SILVINO??????

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